Você está aí, com seu fone no ouvido, mexendo nas tracks, ajeitando o hi-hat, repetindo a melodia pela vigésima vez, tentando acertar o drop. Já são 2h da manhã. E lá está você: sentindo que finalmente criou algo especial, algo que carrega sua identidade.
Mas logo vem o pensamento: “E agora? O que eu faço com isso? Como eu vendo esse beat? Será que alguém vai ouvir? Será que vale alguma coisa?”
Se você está nessa fase, essa carta é pra você. Não é um tutorial técnico, nem um checklist. É um papo reto, de beatmaker pra beatmaker. Porque eu também comecei assim. E porque todo mundo começa do zero.
Inclusive o LR Beats, que hoje é referência global com mais de 100 milhões de plays, trilhas para o NBA2K, campanhas com Nike e Neymar Jr, produções com Ty Dolla Sign, Edi Rock, Rashid e mais de 200 artistas. Ele não nasceu com contrato assinado, nem com setup de luxo. Começou no quarto, com um PC emprestado, FL Studio pirata e o mesmo sentimento que você tem agora: “Será que tem alguém lá fora ouvindo o que eu tô criando aqui dentro?”

O primeiro beat a gente nunca esquece — e o primeiro cliente também não
LR conta que seu primeiro beat vendido não foi num grande estúdio, nem para um artista famoso. Foi para um MC local, no WhatsApp, por um valor simbólico. O beat nem estava finalizado direito. Mas sabe o que ele aprendeu ali? Que a venda não acontece quando você está pronto. Ela acontece quando você se posiciona.
Ele postou o beat num canal do YouTube com “Type Beat” no título. “Kendrick Lamar Type Beat 2012” — algo assim. Fez uma capa improvisada no Paint. Colocou uma tag de voz gravada no celular: “Yo, this is a beat by LR”. Subiu, compartilhou no Facebook e esqueceu.
Dias depois, alguém comentou: “Mano, esse som é pesado. Você vende?”
Pronto. Ali nasceu um vendedor de beats. Não um marqueteiro, nem um empresário. Um artista que entendeu que vender é só um jeito de fazer sua música chegar mais longe.
E é exatamente isso que você precisa entender agora.
Você não precisa ser famoso pra vender um beat. Você precisa ser acessível.
A maioria dos beatmakers acha que só vai começar a vender quando tiver seguidores, quando tiver o melhor plugin, quando tiver um artista famoso gravando por cima. Mas na real, ninguém começa com estrutura. Começa com atitude.
Você tem um beat pronto? Então você tem um produto.
Você tem um Instagram? Um canal no YouTube? Um perfil no BeatStars? Então você tem vitrine.
Você tem coragem de mostrar sua arte e conversar com artistas? Então você tem mercado.
Vender o primeiro beat é menos sobre técnica e mais sobre movimento.
Você tem que postar. Tem que mostrar o processo. Tem que colocar seu nome na roda. Muita gente quer o resultado, mas esquece que visibilidade vem de frequência. LR Beats postava um beat por dia no começo. Eram simples. Nem todos eram bons. Mas ele sabia que era questão de tempo até a conexão certa acontecer.
E aconteceu.
Hoje, ele diz que o segredo foi sempre esse: mostrar, repetir, melhorar. Mostrar, repetir, melhorar. Não tem mágica. Tem consistência.
Quem você quer que ouça seu beat? Já falou com essa pessoa hoje?
O beat não vai vender sozinho. Principalmente o primeiro. Você precisa tomar a iniciativa.
Procure artistas que ainda estão crescendo, como você. Vá no Instagram, TikTok, YouTube. Comente, mande mensagem respeitosa, se apresente como beatmaker. Mostre interesse real. Fale algo como:
“Mano, ouvi teu som e achei massa. Tenho uns beats que combinam com tua vibe. Posso te mandar um link?”
É assim que começa. Com humildade e conexão verdadeira. Ninguém gosta de spam. Mas todo mundo ama encontrar alguém que entende sua estética.
LR Beats fala que muitos dos seus melhores contatos começaram assim. Ele mesmo já mandou beat de graça no começo, só pra começar o relacionamento. Porque ele sabia: relacionamento é mais valioso que qualquer venda única.
E se ninguém comprar? Tudo bem. Continue criando. Continue mostrando.
A primeira venda é simbólica. Representa que alguém enxergou valor na sua criação. E isso pode mudar sua visão pra sempre.
Mas, antes disso, você precisa enxergar valor no seu próprio trabalho.
Você precisa saber que, mesmo se ninguém comprar hoje, seu som vale. Seu esforço vale. Seu processo vale. Porque tudo isso faz parte da lapidação.
LR passou anos fazendo beats sem vender. Mas esses anos ensinaram ele a encontrar o próprio som, a entender o mercado e a desenvolver confiança.
Você pode estar nesse momento agora. O da dúvida. O da espera. O do “será que vale?”. E a resposta é: sim, vale. Mas só se você continuar.
O beat certo, na hora certa, com a pessoa certa. Isso muda tudo.
A verdade é que o primeiro beat vendido muda mais você do que sua carreira. Ele te mostra que é possível. Que não é só um hobby. Que você pode, sim, viver de música.
E daqui a um tempo, talvez você seja a referência. Talvez alguém escreva uma carta contando como você abriu portas, como você mostrou o caminho.
Mas tudo começa aqui: com seu primeiro beat publicado, seu primeiro DM enviado, seu primeiro cliente feliz.
Conclusão: não espere estar pronto. Comece antes mesmo.
Você já tem tudo o que precisa: vontade, curiosidade, criatividade. Agora falta só dar o próximo passo.
Publique seu beat. Crie uma capa. Grave sua tag. Poste no YouTube com um bom título. Faça uma bio decente no Instagram. Converse com artistas reais. Venda seu som como quem entrega parte da alma.
Não porque precisa ser perfeito. Mas porque precisa existir.
Se LR Beats tivesse esperado estar “pronto”, talvez não fosse quem é hoje. Ele começou. Falhou. Aprendeu. Continuou. E hoje abriu caminhos reais pra milhares de beatmakers brasileiros — inclusive você.
A sua vez chegou.
Vai lá e vende seu primeiro beat.
Com respeito, fé e som de verdade,
— De um beatmaker que acredita em você
